A cannabis medicinal e a Covid 19

A cannabis medicinal e a Covid 19

Desde ano passado, que indago quanto uma suposta proteção da cannabis em relação ao Covid 19, já que estudos levantavam a suposição de que uma inflamação no corpo era provocada pelo vírus e se desenvolvia de tal forma que muitas vezes resultava em morte do paciente. Então, percorro os buscadores de pesquisas científicas do mundo inteiro, em busca de artigos que possam comprovar ou não uma ação antinflamatória da cannabis em pacientes que foram contaminados. Atualmente já é de conhecimento que a tempestade de citocinas (Cytokine Storm), a Síndrome de Dificuldade Respiratória Aguda (SDRA) e Síndrome respiratória aguda (ARDS) estão presentes em pacientes e pode levar a óbito.

Tempestade de citocinas é um termo geral aplicado à liberação mal-adaptativa de citocinas em resposta à infecção e outros estímulos. A patogênese é complexa, mas inclui a perda do controle regulatório da produção de citocinas pró-inflamatórias, tanto em nível local quanto sistêmico. A doença progride rapidamente e a mortalidade é alta. Algumas evidências mostram que, durante a epidemia de doença coronavírus 2019 (COVID-19), a deterioração grave em alguns pacientes foi intimamente associada à liberação desregulada e excessiva de citocinas (Mao, Ye e Wang, 2020).

O sistema endocanabinóide, descoberto por Mechoulam (1964), é responsável por manter a homeostase do organismo regulando diversos processos fisiológicos como termorregulação, apetite, dor, qualidade do sono, resposta a estresse e as inflamações. Por este motivo, os fitocanabinóides que já estão sendo utilizados para tratamento de diversas patologias, passaram a ser fonte de pesquisa quanto a sua ação antinflamatória em casos de Covid 19.

A revista Cannabis and Cannabinoid Research em setembro do ano passado, publicou um estudo controlado feito por Baban e sua equipe (USA), que induziu em camundongos de forma artificial a Síndrome de Aflição Respiratória Aguda (ARDS) e criou uma tempestade de citocinas e dificuldade respiratória. Baban desta forma, verificou que os “sinais clássicos da doença” como a queda de oxigenação e a invasão de células inflamatórias que destrói a estrutura pulmonar. Sendo assim, injetaram nos roedores CBD isolado e segundo Baban, “depois de três ou quatro horas, pudemos ver que eles melhoraram. O oxigênio voltou rapidamente, os monócitos e neutrófilos começaram a se aproximar dos níveis normais, assim como as citocinas pró-inflamatórias e a estrutura pulmonar melhorou. ”

Desta forma, Baban e sua equipe se debruçaram num segundo estudo, publicado no Journal of Cellular and Molecular Medicine, em novembro de 2020, onde, seguindo o processo inicial do estudo anterior, puderam observar que a apelina, um peptídeo importante na redução da inflamação, estava praticamente zerado e após a administração de CBD aumentou em 20 vezes seguido da recuperação dos camundongos.

Um estudo de pré-impressão (não foi revisado por pares) da Universidade de Chicago divulgado em março, encontrou os mesmos resultados positivos no tratamento de camundongos induzidos por SDRA com CBD.

Em outra pesquisa, Anil et al. (2021) descobriram que a cepa Arbel de cannabis sativa que possui alto teor de CBD, induziu a redução da inflamação em células de câncer epitelial pulmonar A449.

Seguindo a busca por um tratamento profilático, Wang et al. (2021) desenvolveram uma pesquisa e concluíram que

Nossos dados iniciais sugerem que algum extrato de C. sativa desregula a serina protease TMPRSS2, outra proteína crítica necessária para a entrada do SARS-CoV2 nas células hospedeiras. Embora nossos extratos mais eficazes exijam mais validação em grande escala, nosso estudo é crucial para a análise futura dos efeitos da cannabis medicinal no COVID-19. Dada a atual situação epidemiológica terrível e em rápida evolução, todas as oportunidades e vias terapêuticas possíveis devem ser consideradas. Eles podem ser usados ​​para desenvolver tratamentos preventivos fáceis de usar na forma de produtos para bochechos e gargarejos para uso clínico e doméstico. Esses produtos devem ser testados quanto ao seu potencial para diminuir a entrada viral pela mucosa oral. Dada a atual situação epidemiológica terrível e em rápida evolução, todas as oportunidades e vias terapêuticas possíveis devem ser consideradas.

Aqui no Brasil, José Alexandre Crippa, Professor Titular de Psiquiatria do Departamento de Neurociências e Ciências do Comportamento da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, da Universidade de São Paulo, está à frente de um estudo cujo objetivo é

“conduzir um ensaio clínico randomizado, duplamente-cego e controlado por placebo, para avaliar a eficácia e segurança do canabidiol (CBD – 300 mg por dia) em pacientes infectados com SARS-CoV-2. 

Os objetivos específicos foram avaliar se, em pacientes com formas leves e moderadas de SARS-CoV-2, o uso diário de CBD por quatorze dias é capaz de: i) diminuir a carga viral; ii) modificar parâmetros inflamatórios, como citocinas, medidos no soro; iii) reduzir os sintomas clínicos e emocionais por meio da avaliação clínica diária; iv) melhorar o sono; v) reduzir internamentos e agravar a gravidade da doença; v) Monitorizar os possíveis efeitos adversos do uso do CBD nesses pacientes. ” (CRIPPA apud RAMOS, 2021).

Apesar do ensaio clínico ter terminado em dezembro de 2020, os resultados ainda não foram divulgados.

Portanto, o mundo inteiro se empenha na descoberta de uma cura ou tratamento com a Cannabis da Covid 19 e o Brasil não está atrás. Esperamos que em breve tenhamos um resultado que abranja tratamentos preventivos, na fase inicial e fase grave desta doença.

Referências:

Anil, SM, Shalev, N., Vinayaka, AC et al. Os compostos de cannabis exibem atividade antiinflamatória in vitro na inflamação relacionada a COVID-19 em células epiteliais do pulmão e atividade pró-inflamatória em macrófagos. Sci Rep 11, 1462 (2021). https://doi.org/10.1038/s41598-021-81049-2

Cytokine Storm in COVID- 19 and Treatment, Qing Ye MD , Bili Wang MS , Jianhua Mao MD , Journal of Infection (2020), doi: https://doi.org/10.1016/j.jinf.2020.03.037

Denise C. Vidot, Jessica Y. Islam, Marlene Camacho-Rivera, Melissa B. Harrell, Devika R. Rao, Jennifer V. Chavez, Lucas G. Ochoa, WayWay M. Hlaing, Michelle Weiner & Sarah E. Messiah (2020) The COVID-19 cannabis health study: Results from an epidemiologic assessment of adults who use cannabis for medicinal reasons in the United States, Journal of Addictive Diseases, 39:1, 26-36, DOI: 10.1080/10550887.2020.1811455

Ramos, Laura. Covid-19: Estudos mostram eficácia da canábis na redução da inflamação provocada pelo Coronavirus. Canna Reporter, 29 jan 2021. Disponível em: :<https://cannareporter.eu/2021/01/29/covid-19-estudos-mostram-eficacia-da-canabis-na-reducao-da-inflamacao-provocada-pelo-coronavirus/>. Acesso em 20 abr 2021

Wang, B .; Kovalchuk, A .; Li, D .; Ilnytskyy, Y .; Kovalchuk, I .; Kovalchuk, O. In Search of Preventative Strategies: Novel Anti-Inflammatory High-CBD Cannabis Sativa Extracts Modulate ACE2 Expression in COVID-19 Gateway Tissues. Preprints 2020 , 2020040315 (doi: 10.20944 / preprints202004.0315.v1).