O uso de THC na medicação.

O THC (tetrahidrocanabinol) no remédio provoca alucinações? O THC na medicação dá "barato" igual a maconha fumada?Por que dizem que o THC é necessário na medicação se dizem que o CBD é quem faz o efeito de tratamento? Se a medicação importada só tem CBD, porque a medicação brasileira tem THC?

      A planta cannabis sativa (maconha) possui várias substâncias, são 1600 compostos diferentes com 177 fitocanabinóides agrupados em 11 famílias. Normalmente somente dois fitocanabinóides são conhecidos pela população, o CBD e o THC. O CBD é a sigla para designar o canabidiol e THC o tetrahidrocanabinol.

     O nosso corpo possui um sistema chamado endocanabinóide, responsável por reações bioquímicas, que reconhece os fitocanabinóides por ter receptores, chamados de CB1 e CB2, e por isso essas substâncias fazem efeito no nosso corpo. Esse sistema é responsável pela homeostase, o equilíbrio interno do nosso corpo (ex: frequência cardíaca e respiratória, pressão sanguínea, glicemia, apetite).

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     Quanto aos efeitos do CBD no nosso organismo, segundo Renata Monteiro, farmacêutica, podemos citar:

  • Balanceador de serotonina que atua como antidepressivo e tem impacto positivo na redução da ansiedade, do vício, do apetite, do sono, percepção da dor, náuseas e vômitos.
  • Citotóxica ao câncer de mama e outras células cancerígenas enquanto é cito-preservativa da célula saudável.
  • Poderoso antioxidante que é mais forte que as vitaminas C e E. A combinação de THC e CBD produz um antioxidante mais forte ainda (efeito comitiva).
  • Modula os efeitos indesejáveis como euforia, ansiedade e outros efeitos psicotrópicos do TCH.
  • Agente neuroprotetor que julga-se prevenir o mal de Alzheimer e outros problemas neurovegetativos relacionados a idade.

 

     Por isso o CBD pode ser usado também para tratamento nos seguintes casos: apneia do sono, insônia, cólicas, nervo fantasma, lesão cerebral, falta de apetite, desordem gastrointestinal, síndrome de Crohn, transtorno bipolar, depressão, hipertensão, taquicardia, distrofia muscular, insônia, ansiedade e estresse, dor, para reduzir níveis de açúcar no sangue, convulsão, reduz inflamação, inibe crescimento de células cancerígenas e protege o sistema nervoso de degeneração.

     As ações do THC no nosso organismo são:

  • Bactericida
  • Anti-inflamatório
  • Analgésico
  • Corticóide (2x mais potente que o hidrocortisona)
  • Imunorregulador
  • Neuroprotetor
  • Regeneração cerebral
  • Aumenta a proliferação de neurônios no hipocampo (memória).

 

    O THC pode ser usado para: aliviar a dor, reduzir o vomito e náusea (em casos de tratamento de câncer), inibir espasmos musculares, síndrome de Tourrete, esclerose múltipla, fibromialgia, Parkinson e Alzheimer, espasticidade, asma, fadiga, hipertensão, glaucoma, HIV, distrofia muscular, apneia do sono, insônia, cólicas, membro fantasma, lesão vertebral, artrite ou artrose, inflamação, anorexia e caquexia, desordem gastrointestinal, síndrome de Crohn, transtorno bipolar, depressão.

     Se juntarmos numa mesma medicação o CBD e o THC temos o efeito comitiva: “O efeito comitiva, ou entourage effect, é o nome que se dá a resultante de efeitos causados pelas diversas moléculas presentes no extrato. Estas atuam de maneira conjunta proporcionando uma ação sinérgica que produz um efeito final.(Filev, 2015)”

     Desta forma, o CBD atua como anulador de efeitos psicotrópicos do THC enquanto o THC potencializa os efeitos do CBD.

     O THC no remédio provoca alucinações? O THC na medicação dá "barato" igual a maconha fumada?

     Não. A medicação não é alucinógena por existir o efeito comitiva da sinergia com o CBD (não existe medicação de THC puro sem o CBD).

     Por que dizem que o THC é necessário na medicação se dizem que o CBD é quem faz o efeito de tratamento?

     Para que exista o efeito comitiva que potencializa o efeito do CBD.

     Se a medicação importada só tem CBD, porque a medicação brasileira tem THC?

     A Anvisa publicou, no Diário Oficial da União, a Resolução da Diretoria Colegiada 327/2019, que elenca os requisitos necessários para a regularização de produtos derivados de Cannabis. No Capítulo II Art. 4º da resolução está determinado que “Os produtos de Cannabis contendo como ativos exclusivamente derivados vegetais ou fitofármacos da Cannabis sativa, devem possuir predominantemente, canabidiol (CBD) e não mais que 0,2% de tetrahidrocanabinol (THC).”

     O único medicamento permitido pela Anvisa é o Mevatyl (em outros países com o nome Sativex) possui 27mg/ml de THC e 25 mg/ml de CBD. Portanto, não possui somente o CBD.

     O óleo artesanal da maconha, utilizado por muitos pacientes no Brasil que não possuem poder aquisitivo para efetuar a compra do Mevatyl (quase 3 mil reais), tem diferentes graduações de CBD e THC, podendo ser 1:1 (metade CBD e metade THC, o mais comum) ou ter outras graduações. O óleo com 30ml (contendo 3% de extrato) é comercializado no mercado paralelo com preços que variam entre 150 e 600 reais.

     Portanto a medicação importada possui tanto CBD quanto THC igual ao óleo artesanal brasileiro.

 

 

Referências:

ANVISA. AGENCIA NACIONAL DE VIGILÂNCIA SANITÁRIA. Resolução da diretoria colegiada- RDC Nº 327, de 9 de dezembro de 2019. Disponível em:< https://www.in.gov.br/en/web/dou/-/resolucao-da-diretoria-colegiada-rdc-n-327-de-9-de-dezembro-de-2019-232669072> Acesso em 16 out 2020.

 

FILEV, Renato. Tikum Olam - do hebraico: Reparar o mundo da injustiça social. Boletim Maconhabrás. São Paulo. Nº4, mai, 2015. Disponível em:< https://www.cebrid.com.br/wp-content/uploads/2014/10/Boletim-Maconhabr%C3%A1s-No.-04.pdf> Acesso em 17 out 2020.

MONTEIRO, Renata. Aula proferida no 4º Curso Livre de Cannabis Medicinal. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=u5sP1qmgM4U&list=PL6RKNK9bElZc0LnOiTJSqf6XRlmj1KLLM&index=11> Acesso em 25 ago 2020.